terça-feira, 8 de julho de 2014

O Buçaco - Retalhos da história




Visitei este belo espaço nacional em 2009, mas por alguma razão só agora trouxe este “facto” ao blog.
Antes de iniciar esta pequena resenha, sinto-me na obrigação de responder à pergunta: Buçaco ou Bussaco?
Os linguistas consideram Bussaco como sendo a grafia arcaica de Buçaco.
De todas as referências, aquela que achei mais interessante está presente no blog “linguagemdaciencia.blogspot.pt” e refere que ambas as designações são aceitáveis, embora a mais correta seja mesmo Buçaco. Adianta o mesmo blog que “a explicação para as duas grafias bastante prosaica. A maioria das línguas dos turistas que visitam o local não tem o "c" cedilhado, pelo que estes seriam tentados a ler o nome da região como "Bu-Ca-Co". Convencionou-se então que, para facilitar a dicção, se aceitaria também a grafia "Bussaco", essa sim, inconfundível e lida de maneira uniforme em português, inglês, espanhol ou francês.”
Bom, para mim, continuará a ser Buçaco.
Para além das matas, assume espetacular importância o não muito grande, mas requintado palácio feito, hoje, de hotel de elevada categoria, considerado por muitos dos mais românticos e belos do mundo.
De estilo neomanuelino, foi projetado nos finais do séc. XIX pelo arquiteto Luigi Manini, cenógrafo do Teatro Nacional de São Carlos, que havia sido trazido para Portugal pela mão da rainha D. Maria Pia de Saboia, mulher do rei D. Luis I, e filha de Victor Emmanuel II de Itália. Misturou elementos de vários monumentos nacionais como seja a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos ou o Convento de Cristo em Tomar.
Foi mandado construir pelo rei D. Carlos I, para servir de pavilhão real de caça e demorou 9 anos a ser construído, entre 1888 e 1907, no local do convento ali existente.
Tratara-se do Convento de Santa Cruz do Buçaco, da Ordem dos Carmelitas Descalços, fundado em 1634 e que passou para a posse do Estado, aquando da extinção das ordens religiosas em 1834.
Segundo os especialistas, a estrutura exibe perfis da Torre de Belém lavrados em pedra de Ançã, motivos do claustro do Mosteiro dos Jerónimos, alguns arabescos e florescências do Convento de Cristo, alegando um gótico florido com episódios românticos em contraste com uma austera severidade monacal.
A decoração interior é toda ela alusiva aos descobrimentos, através de painéis de azulejos, frescos e quadros, todos de grandes mestres nacionais. Perfeitamente interligados com estas obras, encontramos um elegante conjunto de tapeçarias e mobiliário hindu, chinês, mas também português.
A beleza dos jardins concorre com toda a envolvente. Segundo consta, estes jardins ainda pertenciam ao Convento.
No início de Agosto de 1904, o rei D. Carlos visitou o Buçaco, ali permanecendo três dias. Ficou de tal maneira entusiasmado que prometeu voltar com a rainha. Cumpriu rapidamente a promessa, e em finais do mês, regressou acompanhado da rainha D. Amélia de Orléans e Bragança.
Organizou festas, bailes e concertos, e “chegando, em ocasiões especiais, mesmo a dar aos seus convidados o prazer de ouvir a sua bela voz de barítono”.
O Buçaco também foi cenário dos amores do jovem rei D. Manuel II com a artista francesa Gaby Deslys que, segundo relatos, era invulgarmente bela e talentosa, e que havia conhecido em 1909 no Théâtre des Capucines, em Paris, onde era então a estrela da revista “Sans Rancune”. A 12 de Julho de 1910, ali se refugiaram furtivamente, tendo permanecido durante seis semanas.
Foi também justamente aqui que se realizou a ultima cerimónia oficial da Monarquia Portuguesa, quando da comemoração do centenário da Batalha do Buçaco, a 27 de Setembro de 1910, tendo o jovem rei partido para o exilio uma semana depois, quando da eclosão da República.
Foi precisamente em 27 de Setembro de 1810 neste, que é hoje um lugar calmo e prazeroso, o palco de uma importante batalha aquando da terceira Invasão Francesa. De um lado, em atitude defensiva, encontravam-se as forças anglo-lusas sob o comando do Tenente-general Arthur Wellesley, visconde Wellington. Do outro lado, em atitude ofensiva, as forças francesas lideradas pelo Marechal André Massena. No fim da batalha, a vitória mostrava-se nitidamente do lado anglo-luso.
Os franceses tiveram 4.486 baixas, incluindo cinco generais. Os Aliados tiveram 1.252 mortos e feridos durante esta batalha que é considerada um modelo defensivo.

GPS: N 40º 23' 25.35; W 8º.23' 16.41

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